14/03/19 – Saúde e Cidadania e os condicionantes do processo saúde-doença
- Lázaro Mendes
- 14 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de abr. de 2019
A manhã do dia 14 se resumiu na exibição e posterior debate acerca do documentário "Por uma outra globalização", inspirado no livro homônimo do geógrafo brasileiro Milton Santos. Instigante e bem produzido, o longa-metragem faz um retrato do mundo globalizado, de modo a exibir os prós e os contras da globalização, processo que modificou drasticamente a dinâmica de funcionamento das nações. Sob essa ótica, tal fenômeno foi positivo no sentido de ter aprofundado a integração econômica, social, cultural e política entre os países, mas trouxe consigo implicações negativas, haja vista que aumentou e tem aumentado os níveis de desigualdade socioeconômica, acarretando maiores índices de desemprego e pobreza. Tais disparidades são causadas, em grande parte, por uma certa passividade dos países subdesenvolvidos em relação aos desenvolvidos, que, por sua vez, são vistos como modelos a serem seguidos e, por essa razão, utilizam-se de sua influência política, econômica e militar para dominar nações que dispõem de recursos de seu interesse. Perpetua-se, assim, o pensamento internacional de que "não há virtude maior que a do papagaio: a virtude de imitar, de ser eco de vozes alheias e, assim, perder seu protagonismo no meio socioeconômico". Dessa forma, o documentário retrata uma Divisão Internacional do Trabalho injusta e desigual, que aumenta a concentração de renda nas mãos dos ricos e abre margem para a exploração das camadas economicamente desfavorecidas da sociedade, especialmente no âmbito do trabalho.
Crianças forçadas a trabalhar em minas de ouro na Nigéria, a fome naturalizada, a morte diária de 30 mil pessoas no mundo por falta de acesso à água potável... Tudo isso me chocou durante o longa-metragem, mas o que me deixou mais indignado foi perceber a naturalidade com a qual os governos lidam com essas questões, sempre sobrepondo a lógica financeira em detrimento da lógica da solidariedade. Como diria o escritor português José Saramago, "a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada e amputada".
Finalizado o documentário, me vi durante um minuto me questionando sobre os motivos pelos quais o professor Kenio teria escolhido essa produção para suscitar o nosso debate. Foi aí que me veio um momento de epifania: "Por uma outra globalização" tinha tudo a ver com cidadania e com a situação da comunidade da UBS Bela Vista! No mesmo instante, enxerguei a pobreza acentuada de algumas áreas do bairro como resultado das desigualdades sociais e da negligência governamental (que envolve, ainda, um processo de crise ética e moral), além de haver percebido a prevalência de interesses financeiros na conduta das autoridades políticas, o que impacta diretamente na promoção da saúde e compromete o exercício pleno da cidadania. Desse modo, iniciamos a discussão ressaltando a urgência de conscientização da população quanto à necessidade de sua participação ativa, que inclui movimentações para pressionar o governo, no intuito de que as demandas da comunidade sejam atendidas e que as deficiências da USF sejam sanadas. Como destacado pelo documentário, existem, na Contemporaneidade, dois grupos: o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com medo da revolta dos que não comem. Não só no bairro de Igapó, mas em todo o Brasil, grande parte da população não tem conhecimento do poder que possui, e isso abre margem para a corrupção e a má gestão dos recursos destinados aos serviços públicos.
Por fim, é válido mencionar a teoria de Milton Santos acerca da existência de três mundos em um só: a globalização como fábula (o mundo como dizem que ele é), a globalização como perversidade (o mundo como ele é) e uma outra globalização (o mundo como ele pode ser). A minha sincera esperança é a de que, um dia, nós possamos viver em um mundo globalizado que preze, acima de tudo, pela justiça e pelo desenvolvimento da humanidade.

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